Untitled 2 ~ Kiko Escora
charcoal on paper, 2001
segunda.
uma rosa parece tenebrosa
neste jardim.

já cedo me perdi…
ônibus, livros, notícias que não li
garotas bonitas e seus pobres cabelos molhados
& caras amassadas (o que será no almoço?)
cartão de ponto e início de semana…
o mesmo alvoroço.

uma garoa chora lá fora – chegou minha vez…
rápido! a máscara! a máscara!
não quero pecar outra vez!

tenho os pés cravados no cimento,
e afundo: “ao fundo… ao fundo…
sumam com ele,
não vale a pena este tormento!”

mas é apenas o começo, nada acaba tão cedo.
nem sempre podemos respeitar as horas marcadas
desprezos & foras carregados involuntariamente
túmulo de luz em epitáfios inundados…
dentro estarão os olhares de compreensão.

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terça.
terceira vez que te ligo de imaginação
procurando embaixo das mesas
algum recado: perdoares cristalinos,
gotas de lágrimas e de verdades,
anônimas, sulfurosas, desinfetadas. nada.

mas hoje notas musicais tomarão conta
de meus pensamentos,
menos do coração, que cutuca, cutuca,
feito batuta astuta:

um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro,
um, dois, 3, 4…
5.000 vezes não!
um dia eu vou te ver
longe de olhares felinos…
e ainda assim será de verdade
como sempre foi.

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quarta.
sessões de cinema espaciais no centro da cidade:
pipocas & chocolates. beijos antes e depois.
escurinho de lanternas sem destino,
batons & chicle…
quem falar de serviço paga um bombom!

chá mate com leite, liquidação de livros, cigarros
(cóf! cóf! cóf!)…
desaparecem as fumaças no frio da noite
assim como nós.

a gente se abraça,
divide nosso calor.
ônibus & ombros & sonos
o caminho pra casa, a pé.

em busca de risadas livres
ainda somos diferentes dois.

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quinta.
vem chegando vem chegando
hoje dá 7 mas não chega 5.
(minto minto minto)
adoro mentir e estilhaçar lógicas
ou me calar. vou me calar agora!

música de lius, ou
prelúdio invertebrado
do mais puro aço
coroadas & inexplicadas
vago silêncio-pausa acorrentado
duro traço desesculachado
de todo queromais.

espero te ver não te vejo
beijo……
tchau…………

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sexta.
alucinações perturbam
o que você pensa sente vê.
culturas do corpo ali
cervejas & aguardentes & nicotinas aqui
vez ou outra a gente quebra a rotina.

coragem! coragem!
baixe a guarda & a arma…
moleques & molecas sujos suados sarnentos
colados em sacos plásticos (entendo…)
o luxo está em baixa (loucura…)
umedecendo nossos olhos pequenos.

icebergs fantasiados
para uma manhã de verão carioca…
nada convencional, nada mal…
o que vou mal?

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sábado.
tarde sufocada em fina lágrima
transparente, inexistente.
telefonema compromete
vontade cheia de banho de sol.

mas hoje é mais foi mais será mais…
chapéu largo e preto (presente dela)
tranças de ouro e brincos de petróleo:
não deixe naufragar nosso barco!

casacos redondos e risonhos
filmes sem contos…
não importa se deitado sentado ou em pé
duchas & hidromassagens
teu corpo nu sempre virgem
para que meus pecados possam te satisfazer.

não exijas nada que também não desejo
sejamos imperfeitos
e nossas adorações ainda serão únicas…

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domingo.
lençóis suados e despertares de perder a hora –
mas nunca haverão horas a perder.
silêncioso sol de fogo assoalha
meu quarto instante.

programas infantis, famílias não me quero
tudo só calmante (a granel) para o jogo.

almoço lá em casa, chama o pessoal
a gente tenta se divertir.
depois cinema cerveja & pastel
(e ainda assim as fadas estarão em seus ninhos)

os finais sempre os mesmos
missas que não freqüento
(não suporto civilização)
e você foi embora
esquecendo de levar meu coração.