Hermes & Afrodite
No dia do meu nascimento
(atenção agora),
campo, parteira e celeiro
A natureza em movimento,
fauna, flora,
todos queriam ver primeiro.
Falar, ninguém tinha ouvido:
um ser sem o sexo definido.
Todos ficaram espantados,
e o acontecido
pelos 4 cantos correu.
Gritavam emocionados:
“O Indefinido…
Nasceu! Nasceu! Nasceu!”
E meus pais, sem nada entender,
resolveram um sexo escolher.
E os anos se passaram,
acreditem,
3 ou 4 e eu a esperar,
até que resolveram:
“Homem!”
sem ao menos me consultar.
E como mágica,
deste dia para frente,
ganhei 1 pinto e
2 bolas de presente.
Pedaços de Infância
Infância nascia, criada, educada,
sob a regência das águas e marés,
que me brindou com amigos rápidos,
mulheresvelozes, pessoas atrozes
que conseguem pensar no futuro…
Enquanto lia e estudava —
cultura a duras penas —
outras crianças apenas brincavam
sem cuidar que brincavam apenas.
Infinitas…
lentas e fundas tardes.
Não joguei bola, botão nem pique.
Perdoem-me Joyce, Mallarmé e Nietzsche,
mas da minha infância roubaram algumas partes.
Enquanto lia e estudava —
cultura a duras penas —
outras crianças apenas brincavam
sem cuidar que brincavam apenas.
Iniciação
Tão jovem, quase homem e já estás cansado.
Quem irá saber do peso sobre teus ombros?
Porta aberta, frente enormecorredorenorme
(já provando a sensação de viagem rápida)
descansa tua vida nas semanas do teu dia.
Enquanto pensava, alucinava —
experiência a duras penas —
outras crianças apenas dançavam
sem cuidar que dançavam apenas.
E arranha as
paredes de motéis baratos,
e penteia o cabelo, a cara, e quebra
os espelhos para não deixar vestígio, e some
nas sombras de torres sem babel do mundo que perdera.
Enquanto pensava, alucinava —
experiência a duras penas —
outras crianças apenas dançavam
sem cuidar que dançavam apenas.
Epitáfio
(part I)
Criança, jovem, homem, em sua carne crua,
emprestada
ressecada,
esburacada,
dissecada,
descobriu que o mundo onde vivia não era mundo,
e suas veias arenosas sob seus poros soprados,
plantavam dor em sua própria terra infértil.
Seus silentes desmandos de ópio,
seus imóveis meses de puro ócio
intumescem suas flores inermes.
“Alguém floriu minha adolescência?
Agulhas, conta-gotas, minhas carências…
Meu coração que bate como de um verme.”
(part II)
Reservei as horas frias pra colheita,
no início,
artifício,
malefício,
precipício,
vontade é prazer que é querer que é superfluo,
e chuvas abundantes fazem falência no jardim
até que cessam e seca-se o verde cinzento.
Minhas longas tardes paregóricas
que imploravam noites eufóricas,
e entravam sem bater à porta.
Ausência de vontades supérfluas
fizeram raízes-veias tubérculas
brotarem na terra-carne morta.
Mudar Posso
Passado que cansa,
esforça tua
lembrança (lembrança)
Picho com sangue paredes verdes
meu azul de céu criança.
Quis então mudar (cansaço),
rápido, antes que tarde.
Viver ou morrer (descaso),
rápino, antes que tardo.
Invocação
E o ciclo se completa
numa velha/nova vida,
dentro de mim, alguém que me quer(o)/odeia,
fora de mim, penso com outra cabeça
& bate outro coração,
veias em que não corre o meu sangue.
De certo que a morte é a única (in)certeza,
por que não acabar tudo agora?
Falo por milhares de bocas e ouço
o eco murmurante do silêncio
que contesta minhas palavras (que não são minhas),
antes mesmo d’eu falar com a boca que não é minha
avesso à minha palavra.
Justo quem? Frágil e oprimido,
motivo de alegrias debochadas, desprezo é a presença.
Assumir razões ou sumir…
Estou centro, e se morto, deus…
minha diferença (não capturada)
espera outro movimento para que mova
a vida que não é minha.
E dissimulo enquanto atraído,
magnetizado, sem opção,
porque foi sempre você quem agiu,
se impondo, comportadamente, e vive, nunca eu…
é que sempre me contenho, reprimo e guardo.
E minha fé existe, brilha, arde, escondida,
pequena, no fundo.
E a leveza de sua sutileza…
Defenda-me da vida ou da morte,
anule o peso sobre meus pés.
Super-Eu
Convenientemente super
desastrosamente homem.
Super-humanidade,
superpopulação,
supermiséria,
preconceitos
& defeitos.
Ou vida (ou)
(nor)mal?
Ser anti-
ser morteal.
Depois do sol,
o infinito que se torna o meu pensar
é + do que desesperadamente só.
Depois do vurmo,
a podridão que se torna o meu amar
é + do que desesperadamente só.
Como agora posso
ser menos, menor,
sem que antes percebesse
minhas incursões,
irremediáveis,
nos templos da desgraça.
& ainda mais você.
Embora menos do que eu,
ainda mais voceu. Superestimação.
Não há mais som de passos
pisoteando minha cabeça.
Ainda você.
Sim
Não
Não
se deve falar sem saber
se pode dar afim de receber
me diga o que devo, não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
me venha com essa
tenho tempo nem pressa
me diga o que posso, não
se mede a dor pelo peito
se nega a morte no leito
Faça o-que quiser,
Faça o-que vier,
Faça o-que der,
Faça o querer,
Faça o fazer,
Faça o crer,
Faça o ser,
Faça-o er,
Faça-o r,
Faça-o ,
Faça- ,
Faç- ,
Fa- ,
F- ,
– ,
,