Enquanto se arrumava para a missa, seu olhar pousou no espelho, revelando uma mulher que mal reconhecia. Passou os dedos pelo crucifixo que pendia em seu pescoço, um presente de casamento. “Ave Maria cheia de graça…”, sussurrou, mas as palavras soaram vazias, pois o desejo que ardia em sua alma não era por Deus, nem pelo marido, mas por algo dito proibido, perigoso e irresistível… Veste o vestido vermelho. Empodera-se. Desliza os dedos abaixo do crucifixo, e acaricia os bicos dos seios por alguns segundos; aperta-os suavemente, mas antes de embarcar em fantasias retrai-se, assustada.
Já na igreja, numa dessas coincidências inexplicáveis, o sermão do Padre Antônio era sobre fidelidade e compromisso. Soava como uma acusação direta, fazendo Maria se remexer no banco, desconfortável, com a sensação de que todos olhavam para ela, em reprovação, como se soubessem dos pensamentos que a consumiam. Ao seu lado, o marido segurava sua mão, alheio ao tormento interior da esposa.
Após a missa, enquanto cumprimentava os conhecidos, seus olhos vagavam pela praça, desejando cada homem que passava. O jovem entregador de jornal, o senhor que vendia pipoca, até mesmo o sacristão de meia-idade – todos pareciam possibilidades tentadoras. “É só uma fase”, tentava se convencer, mas sabia que mentia para si mesma.
O desejo de ser infiel não era novo, crescia há meses, alimentado pela rotina sufocante de mãe e esposa exemplar, implacável, que não admite desvios. Essa moralidade exacerbada só fazia piorar as coisas, atiçando ainda mais a imaginação, que voava longe… longe… para ares cada vez mais depravados.
À noite, deitada ao lado do marido que ressonava profundamente, Maria sentia uma chama queimar por dentro, em uma ânsia por uma aventura, qualquer que seja, desde que depravada e proibida! Suas mãos, que horas antes haviam embalado os filhos para dormir, agora tocavam suas partes íntimas. Maria se contorcia no desejo de deitar com outro homem… qualquer um, que não fosse seu marido.
Pegou o celular, os dedos pairando sobre o endereço salvo do site pornográfico que havia encontrado semanas atrás mas não tivera coragem ainda de abrir. “Só uma olhadinha”, pensou, o coração acelerado. Seu dedo hesitou, fotos de homens nus, bonitos, super-dotados… e desconhecidos. Cada um despertando fantasias diferentes, cada qual uma fuga única dessa monotonia, densa e caudalosa, que a envolvia. Maria já não se importava em ser discreta, e ao lado do marido que dormia, gemia… gemia alto, em orgasmos profundos, imaginando-se em orgias desenfreadas, monumentais!
Depois de saciada, Maria fecha os olhos, respirando fundo, com o peso da culpa que a consumia pelos desejos mundanos parcialmente realizados. Amava sua família, não tinha dúvidas, mas o desejo de ser infiel continuava ardendo em sua alma, e na noite seguinte, sabia que estaria lá novamente, esse desejo, agora fortalecido, gritando por atenção, exigindo ser verdadeiramente saciado.
“Deus, me ajude”, murmurou na escuridão, sem saber ao certo se queria ser salva ou se ansiava ainda mais pela queda. Embora dividida entre o pudor e a perversão, entre a virtude e o pecado, sentia-se livre para escolher, apesar do peso das possibilidades. “Somos prisioneiros de nossa própria liberdade”, lembrou, provavelmente de algum sermão do Padre Antônio. Compreendeu que a verdadeira liberdade não estava na ausência de limites, mas na coragem de fazer escolhas e aceitar suas consequências.
Certa de que a luta contra seus impulsos estava longe de terminar, e de que o amanhã traria novos desafios, novas tentações, temia não ter forças para resistir por muito mais tempo.
Adormece. E fantasia a quem finalmente se entregaria…