Padre Antônio ajoelhou-se diante do altar, suas mãos trêmulas agarrando o terço com força. “Livrai-me da tentação, Senhor”, murmurou, mas as palavras soavam ocas. Há meses que o desejo o consumia. Cada confissão, cada missa, cada momento de solidão era uma batalha contra seus próprios instintos. O voto de castidade, antes uma fonte de orgulho, agora era um fardo insuportável. Antônio era conhecido por sua devoção e compaixão. Consolava os aflitos, guiava os perdidos, era um farol de virtude na comunidade. Mas por dentro, era um vulcão prestes a entrar em erupção.
Tudo começou quando Maria vestiu aquele vestido vermelho… Um vermelho escarlate que parecia deslizar sobre sua pele, como pecado líquido, em cada gota uma promessa de prazer incendiado, despertando desejos há muito adormecidos em Padre Antônio, enquanto o mundo ao redor se desenrolava na missa que ele supostamente deveria estar conduzindo, mas paixão ardente e a luxúria incontrolável que sentia por Maria… seu sorriso gentil, o roçar acidental de suas mãos ao trocarem documentos sobre a reforma do orfanato… o perfume suave que deixava no ar – cada detalhe atiçava um fogo que Antônio pensava ter extinguido há muito, muito tempo.
“É apenas biologia”, tentava se convencer. Mas sabia que era mais. Era uma fome da alma, um vazio que nenhuma oração parecia preencher. À noite, em sua cela austera, Antônio se masturbava, levado pelo desejo e pela culpa, atormentava-se em sonhos eróticos com Maria, e acordava suado, gozado e envergonhado.
“Como posso pregar a virtude se sou escravo da carne?”, questionava-se, dilacerado entre a fé e o instinto.
Cogitou, no tribunal de sua mente, deixar o sacerdócio, mas a ideia de abandonar sua vocação, trair seus votos, o enchia de pavor. Além de que deixaria de ver Maria aos domingos. Estava preso – nem totalmente homem, nem totalmente santo.
Numa noite particularmente difícil, Antônio saiu às ruas. Seus passos o levaram a um bar de má fama. Ali, entre pecadores e marginais, sentiu-se estranhamente em casa.
Uma prostituta se aproximou, oferecendo consolo carnal. Por um momento, Antônio hesitou. Seria tão fácil ceder, saciar aquela fome devoradora… não recuou, e ao invés de buscar refugio na igreja, ajoelhou-se, sim, mas desta vez para lamber freneticamente a vagina da mulher, que se entregava abertamente.
“Talvez seja esse o verdadeiro teste”, pensou, não negar o desejo por Maria, mas enfrentá-lo como parte de mim, ser-humano que sou, falho, e assim buscar a saciação.” Antônio ergueu-se, exausto depois de gozar mais de 5 vezes, mas em paz. Sabia que a luta continuaria – dia após dia, tentação após tentação. Mas agora entendia: sua humanidade, com todas as suas contradições, era seu fardo e sua dádiva.
No domingo seguinte, pregou sobre compaixão – não a compaixão distante de um santo, mas a compreensão profana de quem conhece o desejo, a luta interna…
Maria estava na primeira fileira. Vestia vermelho. O marido não viera. Pela primeira vez em meses, as palavras do Padre Antônio soaram verdadeiras. E Maria sentiu um fogo ardente, e uma imensa vontade de se confessar. Finalmente achara a quem se entregaria…