é tanta ciência…
ainda assim estamos morrendo,
só que agora os funerais estão despovoados.
só a mágoa seca e sem música,
ecoando em silêncio.
como há os que choram
há os que ficam sem voz
de medo.
não só os velhos
têm medo – o medo já estava lá, antes:
acoitado
à espera –
lê-se no corpo…
talvez com mais clareza no corpo dos velhos.
esta semana visitei (__________)
• uma igreja
• um hospital
• um cemitério
encontrei velhos,
homens e mulheres
uns mais novos,
outros mais velhos;
uns sozinhos,
outros acompanhados
por velhos mais jovens.
de canto de olho vi a velhinha que caminhava
como uma criança que aprende a andar:
titubeante
curvada
ameaçou cair uma par de vezes, mas desistiu…
talvez pensando como J. Alfred Prufrock:
ousarei perturbar o universo?
ousarei comer um pêssego?
ou devo despedir-me despercebidamente?
o pêssego seria a queda
e a ousadia de tirar alguém
do seu caminho – eu, do meu
contemplamento distante –
para ajudá-la a se levantar.
o fim das coisas,
o fim do amor
o fim do corpo.
Pergunto-me se também ousarei um dia perturbar o Universo…