Remedios Varo ~ Ciencia Inútil (El Alquimista), 1955

é tanta ciência…
ainda assim estamos morrendo,
só que agora os funerais estão despovoados.
     só a mágoa seca e sem música,
          ecoando em silêncio.

como há os que choram
há os que ficam sem voz
de medo.
não só os velhos
têm medo – o medo já estava lá, antes:
     acoitado
          à espera –
lê-se no corpo…
talvez com mais clareza no corpo dos velhos.

esta semana visitei (__________)
• uma igreja
• um hospital
• um cemitério

encontrei velhos,
          homens e mulheres
uns mais novos,
outros mais velhos;
uns sozinhos,
outros acompanhados
          por velhos mais jovens.

de canto de olho vi a velhinha que caminhava
como uma criança que aprende a andar:
          titubeante
               curvada

ameaçou cair uma par de vezes, mas desistiu…
talvez pensando como J. Alfred Prufrock:

ousarei perturbar o universo?
ousarei comer um pêssego?
ou devo despedir-me despercebidamente?

o pêssego seria a queda
e a ousadia de tirar alguém
do seu caminho – eu, do meu
contemplamento distante –
para ajudá-la a se levantar.

o fim das coisas,
          o fim do amor
                    o fim do corpo.

Pergunto-me se também ousarei um dia perturbar o Universo…