Ele estava parado à beira do cais, a brisa do mar agitando seus cabelos enquanto observava os navios balançando suavemente sobre as águas. Na mala trazia apenas o essencial: algumas mudas de roupas, um caderno e umas boas lembranças de tempos antigos.
“Não deixe de abraçar seus amigos”, sua mãe costumava dizer. Ele os abraçara com força, mas o calor das amizades parecia distante. O lugar que deixara para trás era uma tapeçaria de memórias, tecida com fios de alegria e tristeza. O mar vai levar esse peso embora”, refletiu em silêncio.
Quando o barco zarpou, sentiu um lampejo de esperança… o horizonte espalhava-se diante de seus olhos, em um imenso leque de possibilidades. Se imaginou perambulando por ruas ensolaradas, experimentando comidas locais, mergulhando na cena artística das pequenas vilas…
À medida que a embarcação chegava mais perto do destino, uma inquietação familiar apertava-lhe o peito. Cada onda que batia contra o casco sussurrava uma monotonia, um déjà vu implacável e sufocante. Sentia-se um fugitivo, consciente de que fugir não o libertaria.
Quando finalmente aportou, percebeu que na verdade não tinha destino. Não tinha para onde ir. Nenhuma pessoa conhecida, ninguém a lhe esperar, nem mesmo um quarto de hotel reservado…
Deambulou pelas ruelas estreitas, procurando um lugar para ficar. O cheiro de pão fresco e de café recém moído e coado trouxeram lembranças da infância, e por um instante sentiu-se vivo. Sentou-se um pouco para apreciar o nascer do sol.
Sentiu uma presença, bem ali, ao seu lado. Era aquele outro “eu”, triste, de que ele tentava desesperadamente escapar. Ele não conseguia se livrar da sensação de vazio em seu peito… nenhum lugar seria o santuário que idealizara; não importa onde fosse, todos os lugares seriam apenas um reflexo da sua própria alma.
Abriu o caderno novo na primeira página. Assustadoramente branca. Contempla o horizonte por alguns minutos. Lembra de uma frase de Hemingway, “You can’t get away from yourself by moving from one place to another”. Em meio ao caos e à beleza, comete um poeminha disfarçado de tanka:
ecos de hemingway
sentado neste banco.
quem sou eu? me perguntei
retoricamente, e concluí, franco…
xi, deu branco! mas logo lembrarei.