Woman in the Hospital ~ Gyula Szabo
Uma mulher me falava que meu pai e minha mãe tinham sofrido um acidente. Era em Dublin, tenho quase certeza. Eu a interrogava “Onde eles estão?” e ela dispersava, “Ah, estão ali…” “Onde?”, gritava desesperado, “Ali…” e apontava displicentemente para um beco escuro, e alertava: “Mas se eu fosse você eu não iria lá…”.

Claro que eu fui.

Entro no beco e encontro minha mãe caída, desacordada, e meu pai cambaleante, tentando levantá-la. Num instante – num daqueles instantes de sonho que transgridem todas as leis da física – estávamos todos no saguão de um hospital: lembro-me bem de pai, meu irmão e minha esposa. Tem mais gente mas não me lembro quem são, ou não vejo seus rostos. Todos estavam bem calmos, esperando não sei o quê. Eu só queria chegar ao quarto de minha mãe.

Peço informação. Era o quarto número 9, mas disseram que eu não saberia chegar lá… Mostraram-me o mapa do hospital, que parecia o James Connolly, em Blanchardstown, mas as imediações tinha a representação urbana de Barcelona.

Chamei minha esposa para olhar o mapa, na esperança de que ela reconhecesse o caminho, mas ela estava distraída… Peguei o mapa e disse “Deixa que eu me viro.” Chamei meu irmão para ir comigo. Ele veio, mas no caminho nos perdemos um do outro. Pedi informação para um enfermeiro-estudante – era um hospital universitário. Ele pegou o mapa, olhou, coçou a cabeça, chamou outro colega, “Não é aquele lugar onde não se pode dormir à noite?”, “Sim, lá não se dorme…”. “Tudo bem”, disse, “eu só quero chegar lá!”.

O enfermeiro-estudante me conduziu, correndo um pequeno trote, entre portas e corredores. Um verdadeiro labirinto, e conforme nos emaranhávamos hospital adentro, suas alas ganhavam um aspecto de abandono, de desolamento.

Chegamos ao lugar. O enfermeiro sumiu – mais uma daquelas distorções das leis da física. A porta do quarto número 9 ficava numa parede, e parecia uma gaveta. Confuso, abro a tal porta e vejo o corpo de minha mãe. Embora ela estivesse bonita, não aguento a imagem e despenco em lágrimas. Retoricamente me pergunto “Por que não me avisaram antes?”, já que eu tinha a impressão de que todos sabiam, menos eu.

Acordo… e me concentro em entender o sonho. O número 9.

Na numerologia, o 9 encerra um ciclo natural, a morte de um ciclo e as portas para o início de outro. Pode ser interpretado como o fim das ilusões ou como um recomeço. E eu acabo dando ouvido mais pela mitologia, como fenômeno popular de transformação e sua capacidade de conectar diferentes culturas através de histórias, geralmente baseadas em tradições e lendas feitas para explicar os fenômenos naturais, a criação do mundo, o universo ou qualquer outra coisa além da simples compreensão.

Nessa linha, tem um mito bem descritivo da essência do número 9: o Mito da Descida de Ishtar ao submundo. Ishtar, deusa suméria da fertilidade, do amor, da guerra e do sexo, desce ao submundo através de uma imensa caverna vertical e conforme avança os sete portões do inferno, um guardião retira uma peça de seu vestuário real. Quando chega ao fundo do poço, Ishtar está totalmente nua, despojada de suas armas e atributos reais, de seus símbolos de status e de realeza. Voltou ao seu estado original. Quando consegue voltar, ela está modificada – pode-se dizer que morreu e renasceu.

Talvez seja este o meu número 9…