
Na rede os peixes encontram seu fado,
Sob o véu d’água seu destino a aceitar:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
Entre escamas condenadas, um rebelde marcado
Da morte certa conseguiu escapar.
Na rede os peixes encontram seu fado.
No porão do barco, trêmulo, encurralado,
Celebrava a vitória que ousou conquistar:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
Três sóis se puseram. No escuro abafado,
Sua carne já seca começou a putrefar.
Na rede os peixes encontram seu fado.
O odor que agora exalava, algoz declarado,
Fez o fugitivo sua escolha questionar:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
“Melhor seria ter partido com meus irmãos ao lado,
Com honra, ao invés de sozinho me deteriorar.”
Na rede os peixes encontram seu fado:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
(*) Este poema é um estudo do villanelle, uma forma poética de dezenove linhas – cinco tercetos seguidos por uma quadra, onde a primeira e a terceira linha do primeiro terceto são repetidas alternadamente no final de cada estrofe subsequente até a última estrofe, que inclui ambas as linhas repetidas.