Na rede os peixes encontram o seu fado,
O ciclo da vida cobra nobreza do ser:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
Cardumes inteiros, destino traçado,
Mas vez ou outra um haverá de se subverter.
Na rede os peixes encontram o seu fado,
Mas um peixe resiste, em protesto ousado,
E no porão se esconde, a se encovardecer:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
Três dias se passaram, o porão abafado,
E o inevitável destino começa a carcomer.
Na rede os peixes encontram o seu fado,
O seu mau-cheiro o deixou incomodado,
E ponderou a valia de todo esse sofrer:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
Em profunda reflexão entendeu sem hesitar,
Que o melhor era voltar, e não mais incomodar.
Na rede os peixes encontram o seu fado:
Vasto é o mar, e mais vasto o seu legado.
(*) Este poema é um estudo do villanelle, uma forma poética de dezenove linhas – cinco tercetos seguidos por uma quadra, onde a primeira e a terceira linha do primeiro terceto são repetidas alternadamente no final de cada estrofe subsequente até a última estrofe, que inclui ambas as linhas repetidas.