set: interior – sala de estar – noite
sala suavemente iluminada – rapaz no sofá – olha para o nada
set: exterior – defronte da casa – chuva suave
barulho de carro estacionando – fechar de porta – passos se aproximam
set: retorna para interior
homem entra pela porta – olhar fixo no rapaz – pergunta
“como foi seu dia?”, em tom gentil, colocando as chaves sobre a mesa.
rapaz suspira – olhar cabisbaixo – responde
“o de sempre… nada de novo”, ríspido.
incomunicabilidade – dúvida – confusão
“entendo”, diz o homem, mas não entende.
“você não entende nada”, responde, quase arrependido.
compaixão – frustração – irritabilidade disfarçada
“não desanime, uma hora as coisas vão melhorar”, diz, tentando se convencer.
irritabilidade escancarada – desafio – amor mal canalizado
“e como é que você sabe, hem?!?”, grita com a boca e com a cara!
previsibilidade – superioridade semi-arrogante – calma auto-imposta
“tem vezes que a gente simplesmente sabe…”, arrisca, por falta de algo melhor.
“ai, que raiva que me dá quando você fala assim!”, levantando ainda mais a voz.
“você precisa aprender a controlar sua raiva”, diz em tom compassivo, piorando a situação.
rapaz levanta – agitado – anda de um lado para o outro
“me deixa em paz!”, grita, em tom meio imperativo, meio permissivo.
“o que é isso na sua mão?”, perscruta.
descontrole – acuado – confrontativo
“não te interessa”, grita avançando.
“uma faca? Para quê tem uma faca?”, titubeia recuando.
set: manhã seguinte – sala de estar – despertador soando ao fundo
mármore branco – mancha vermelha – dois corpos no chão, sobrepostos.