Porque só quem vai leva consigo as saudades da terra que deixa.
E essas saudades são estrelas. E as estrelas guiam os homens.”
José Américo de Almeida in A Bagaceira, 1928
no céu de puro graveto,
cobra voa e caça vento
chuva de enxofre chove
secando mato sedento
peixe de zinco e nobre.
abunda riacho sem água,
que desce seco a serra,
cantando de ré, a peste
uivando pra lua da terra,
que nasce e morre de pé.
sob a luz do luar de couro,
o bode carrega ouro de tolo
e o cavalo sem ferraduras
pasta a duras penas alheias
a volta vadia da vida lheia.
mula sem cabeça nem juíza
jaziga abandonada sob sol
pisa trovã, rebenta chã
já cansada de tanta cabeçada
rachada saca-bucha da cangaça.
volto então pro meu sertão,
montado num burro sem asa,
com meu chapéu de luz e trovão,
no bolso, plantei um sol novinho em brasa,
caudaloso e lento rio que me leva pra casa.